Uma simples corruíra

Foi de manhã. A corruíra, que há tanto tempo eu não ouvia,
no meu pátio distribuía seus gorjeios…
Eu ouvia…
Não foi depois da chuva, nem foi aqui, nem acolá.
Foi assim, pela manhã, num lugar perto daqui, peto de lá.

A garriça veio espalhar seu canto,
despertar minhas saudades,
levar-me ao sítio da minha tia,
tornar-me à infância,
embriagar-me de simplicidade
e de uma indescritível ternura!

Cambaxirra pequenininha, cantora de uma lira humilde,
mas tão viva, recordativa dos meus paraísos de infância…
Como posso entender pousares tão ao rés do chão,
com teus vôos inconsistentes,
E me levares tão longe assim, de repente?
Ao sítio da tia Maria.

Carricinha, cotejavas c’ os pintassilgos que se equilibravam
nas flores dos nabos e dos trigais,
c’ os sabiás que sangravam os caquizeiros,
c’ os sanhaços que espicaçavam o pereiral…
E no entanto, é o teu singelo e humilde e
irrequieto canto que me move até lá!
Por que não é o canto do pintassilgo, do sanhaço, do sabiá?

Foi hoje de manhã, em algures do meu limoeiro,
que mudaste meu tempo matutino, meu dia inteiro,
e me trouxeste de volta uma antiga e doce alegria
qu’e eu tinha quase enterrado no sítio da minha tia!

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