Projeto da UFPR visa ajudar mulheres vítimas de violência praticada por parceiros íntimos

Por Redação 5 min de leitura

O projeto “Eu Decido” é uma iniciativa desenvolvida no Departamento de Saúde Coletiva, em parceria com o Grupo Interdisciplinar de Pesquisas sobre Território, Diversidade e Saúde (TeDis) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e resultou na criação de um site homônimo. A ferramenta digital, prevista para ser disponibilizada ao público em janeiro, foi pensada para oferecer um espaço acolhedor a mulheres que viveram situações de relacionamento abusivo. 

“Desenvolvemos o protótipo do ‘Eu Decido’ em Curitiba e fizemos uma rodada de grupos focais com mulheres atendidas na Casa da Mulher Brasileira. Elas fizeram algumas sugestões”, conta o coordenador do projeto, professor Marcos Claudio Signorelli. A partir disso, “remodelamos e implantamos”, disse. 

A ferramenta tomou como base uma plataforma originada nos Estados Unidos, e que posteriormente foi adaptada para as realidades de outros países, como a Austrália, a Nova Zelândia, o Canadá e o Quênia. Por aqui, a pesquisa em torno dela foi iniciada em 2018, por meio de uma parceria da UFPR com a Casa da Mulher Brasileira de Curitiba. Na ocasião, verificou-se a viabilidade da iniciativa no país, bem como quais seriam as particularidades para as mulheres em nosso contexto. 

Todos esses países fizeram uma pesquisa [em torno de suas realidades]. O uso dessa plataforma conosco na versão 1.0, ao longo de alguns meses, comprovou ajudar as mulheres a tomarem a decisão de como se manterem mais seguras em seus relacionamentos, ou como planejar de forma segura o rompimento”, ressaltou Signorelli.

Interdisciplinaridade no auxílio a mulheres vítimas de violência doméstica 

A iniciativa conta com a participação de docentes e discentes das áreas de saúde coletiva, comunicação, tecnologia da informação e direitos humanos. Além disso, o projeto contou com pesquisadores das cinco regiões do país e de universidades do exterior. A partir do estudo inicial em Curitiba com mulheres vítimas de violência por parceiro íntimo (VPI), desde 2024 e com financiamento do CNPq e Ministério da Saúde, a equipe vem trabalhando em refinamentos e atualizações, ouvindo mulheres e profissionais de outras Casas da Mulher Brasileira: em Campo Grande (MS) e em Boa Vista (RR); e também do SUS em Paranaguá (PR).

Nesses locais, as mulheres atendidas tiveram acesso à plataforma, avaliando e sugerindo melhorias para a versão 2.0. “Nós criamos um violentômetro, que possibilita avaliar o risco que a vítima está correndo, e realizar alguns direcionamentos a partir dessa avaliação”, afirmou Signorelli. 

Foto: Grupo Focal com profissionais da Atenção Primária à Saúde de município de Paranaguá/PR.

Como funciona a ferramenta 

O “Eu Decido” auxilia na identificação de sinais de violência, permitindo avaliar a segurança atual da vítima, elaborar um plano personalizado, conhecer os recursos disponíveis e apoiar decisões sobre o futuro. Dessa forma, realiza intervenções voltadas à prevenção primária (evitar que a violência ocorra, alertando a vítima sobre o risco de sofrer agressões) e secundária (ajudar a vítima quando a violência já aconteceu). 

Em muitos casos, quem sofre ações controladoras não reconhece a violência. Alguns sinais de alerta são naturalizados e interpretados como demonstrações de afeto. Superproteção, excesso de ciúmes e monitoramento constante, por exemplo, podem ser entendidos como medo de perder a parceira. 

A violência, porém, não é apenas física. Ela também pode ser psicológica, moral, patrimonial ou sexual. 

Violência contra a mulher: como identificar e denunciar 

Segundo pesquisa do Instituto DataSenado, em 2025, 3,7 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência. Em 71% dos casos, crianças presenciaram as agressões. Em 40% das ocorrências, as vítimas não receberam ajuda de testemunhas adultas: trata-se de uma omissão que representa cerca de 698 mil casos. 

O estudo também aponta que a maioria das mulheres não busca ajuda formalmente. O principal motivo é a preocupação com os filhos e o medo de retaliação por parte do agressor. Assim, 57% das vítimas recorreram a familiares, enquanto 11% acionaram o Ligue 180, Central de Atendimento à Mulher. 

No Paraná, a cada dois minutos, uma mulher é vítima de violência. Dados coletados do Centro de Análise, Planejamento e Estatística (Cape) da Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp-PR), de janeiro a outubro, registraram 199 mil casos. Ocorrendo aproximadamente 654 casos diários. No ano anterior, em 2024, no mesmo período, foram atendidos 205.295 casos. 

Vale ressaltar que, em feriados prolongados ou em período festivo, casos de violência contra a mulher aumentam, por conta do consumo de bebidas alcoólicas, ausência da rotina, convivência estendida com a pessoa agressiva e dificuldade de acionar redes de apoio. 

“É um grande desafio, mas nosso objetivo é ser simples e acessível. Que seja mais fácil para todas as pessoas, e principalmente para as mulheres que não têm acesso às informações”, frisou a participante do projeto, a jornalista Dra. Priscila Tobler Murr. 

Em caso de violência ou emergência, é essencial que a vítima peça ajuda pelos órgãos oficiais, como: 

  • Central de Atendimento à Mulher: Ligue 180. 
  • Polícia Militar: Disque 190. 
  • Delegacia da Mulher: (41) 3219-8600. 
  • Casa da Mulher Brasileira de Curitiba: (41) 3221-2701 e (41) 3221-2710. 
  • Patrulha Maria da Penha: Disque 153.
  • Para mais informações do projeto: siga as redes sociais ou cadastre-se no boletim mensal.

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