Primeiro estagiário autista no Centro Cultural de Pinhais celebra oportunidade

Estudante de Publicidade e Propaganda, Emanoel é o primeiro personagem de série especial “História de Protagonista”.
Emanoel Fernandes da Silva, 19 anos, tornou-se um rosto conhecido para o público do Centro Cultural Wanda dos Santos Mallmann, em Pinhais. Desde abril, quando iniciou ali um estágio na área de Publicidade e Propaganda, virou garoto-propaganda do local em postagens na rede social. Também é visto nos corredores e jardins do edifício, onde caminha quando precisa autorregular seu corpo, necessidade para um jovem autista como ele.
Desde o início do contrato com a Secretaria Municipal de Cultura, Esporte e Lazer (Semel), responsável pelo Centro Cultural, Emanoel realiza o trabalho com disposição e tranquilidade. “Eu me senti muito confiante para começar. Queria conhecer como funciona o mercado de trabalho. É o meu primeiro estágio, primeira vez que estou trabalhando”, afirma. A história dele é um exemplo da inclusão praticada pelo órgão municipal. Emanoel é um dos personagens da “História de Protagonista”, uma série especial de reportagens da Prefeitura de Pinhais.
Segundo a pedagoga Karina Valim de Araújo, coordenadora do “Histórias que Incluem”, o programa de lazer e inclusão da Semel, a proposta da série com os personagens é evidenciar o protagonismo de pessoas com deficiência e neurodivergentes. “Queremos valorizá-los, mostrando a importância da inclusão na sociedade e também inspirando outras famílias atípicas”, diz.
Karina acompanhou com alegria o início do estágio de Emanoel. “Conhecer a história de vida dele passa por reconhecer a força de uma mãe e a resistência de um autista, compreendendo que o caminho não é fácil, mas as conquistas são possíveis. O autista precisa estar inserido no mercado de trabalho, mostrando suas habilidades e sendo respeitado na sua condição”, observa. O estágio foi uma conquista que passou pela família de Emanoel, atenta às possíveis opções de trabalho. Foi a mãe dele, Edilza, que pensou na possibilidade, ainda em 2024. Agora, no primeiro ano da faculdade, surgiu a oportunidade.
Desafios
Emanoel se depara com obstáculos imperceptíveis para muitas pessoas, mas que podem ser desafiadores para alguém diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ruídos altos no local de trabalho, por exemplo, o afetam bastante. O momento do almoço, em uma mesa compartilhada, também é desafiante. Mas a convivência com colegas tem sido proveitosa. Ele tem desenvolvido a tolerância e paciência em eventos e momentos de reunião com presença de muitas pessoas. “O estágio está sendo bem positivo para mim, estou aprendendo muito sobre a área da comunicação, também estou me desenvolvendo, aprendendo a me relacionar com outras pessoas”, conta.
Como a maioria das pessoas com TEA, Emanoel se anima para falar de alguns assuntos, os “hiperfocos”, assuntos em que deposita maior concentração e interesse. “Tenho diferentes hiperfocos, por exemplo, nas vinhetas da televisão brasileira, no futebol e na Fórmula 1. Meu time é o Sport Club Corinthians Paulista e na Fórmula 1, eu tenho admirado muito o heptacampeão Lewis Hamilton. Esses três interesses vêm desde a minha infância e me ajudaram a construir minha identidade e personalidade”, relata, com detalhamento. No caso do futebol, ele seguiu a paixão de parte da família. As vinhetas e a corrida automobilística foram descobertas próprias. Outro interesse são programas humorísticos.
Atuar no Centro Cultural mudou a rotina de Emanoel, anteriormente focada em opções on-line, como conversas com amigos, aulas a distância, jogos e vídeos. Pela bagagem que carrega, se imagina trabalhando como um produtor de vídeos na internet, gravando um diário online (vlog) e jogando games.
Diagnóstico
Segundo Emanoel, terapias recentes também o ajudaram a conquistar maior autonomia. Em 2024 ele iniciou sessões com terapeuta ocupacional e psicólogo, individualmente. Antes, fazia terapia em grupo, mas a mudança foi favorável, ele diz. “Fui ficando cada vez mais independente. E com o apoio que eu tive das terapias e toda minha família, eu concluí o ensino médio no ano passado e comecei a faculdade agora em 2025 e consegui a vaga de estágio. E a bolsa está sendo fundamental para poder comprar minhas coisas e também para planejar meu futuro.”
O diagnóstico de TEA foi confirmado quando Emanoel tinha 5 anos. Uma das coisas mais perturbadoras era o susto ao ouvir uma bexiga estourando. Isso limitou a participação dele em outras festas, mantendo-o afastado por vezes. Essa questão ainda está sendo processada por ele, que tem conversado a respeito nas sessões de terapia. A participação no projeto Histórias que Incluem, também iniciativa da Semel, foi um incentivo para se integrar com novas pessoas.
Por enquanto, a equipe do Centro Cultural tem cuidado para minimizar barulhos e acolher bem o primeiro estagiário autista da secretaria. Que em breve vai ampliar sua participação nas redes sociais como Manolo, apelido que carrega há alguns anos e que está pronto para ganhar o mundo, em novos projetos da Semel para impulsionar a inclusão em Pinhais.