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Paulo Silva Vendedores da Estação
Lá vem o trem apitando e os passageiros na expectativa de mais uma parada, mais uma estação.
– Olha a pera! Olha o Pinhão!
No final dos anos 40 o Bibe trazia de Pinhais, da chácara do Alemão, as peras para vender na estação. Seria ele o precursor dessa atividade que deixou tanta saudade? Enquanto a composição aguardava ao longe o momento de encostar – porque a litorina estava na vez – o espertinho corria ao encontro dela para esvaziar a 1ª cesta.
O Misto estaca, guinchando.
– Olha o milho verde! Olha o caqui!
O Mirso Formigão, a cada dois caquis que vendia, comia um. “Olha o pinhão, patrão! Cinquenta centavos o pacote! “Dona Maria e dona Lila se esmeravam na feitura dos pacotes de páginas d’O Cruzeiro.
O Misto, trem assim chamado por ser composto de carga e passageiros, passava às 10:40h vindo de Paranaguá. Retornava de Curitiba às 17hs, reunindo uma expressiva plateia daquela Piraquara ainda incipiente dos anos 50 e 60.
– Onde tá indo, meu filho?
– Vou vê o “mistro” passá! Vou passá na casa do Zé pra descer pra vila!
Depois do Bibe, com a chegada do João Pimentel, sobressaíram- se os Lara, sob a batuta da D. Maria: Jojo, Flávio, Ziza, Zé Dinarte e o Caveira. Introduzida no mercado a “cocada de abóbora”. Mais o Miguel Riechi vendendo quibe, e ainda o Aroldo, o Lineu, o Carlito Charque, também conhecido como Miquimba. O Arhtur vendendo uva pro seu carneiro. Imagino o quanto essa atividade foi útil no apoio ao orçamento doméstico naquele período de dificuldades…
Sábado tinha o trem das 2hs – Curitiba – Paranaguá – Antonina. A piazada na casa da dona Lila, cada um com sua cesta de pera dura, d’agua, ovo cozido, milho verde, disputando a freguesia em cada janela do nosso querido trenzinho encantado. Festa depois com os trocados nos bolsos de calças remendadas nos joelhos e fundilhos, torrando em doces e sorvetes aqueles miúdos, ou guardando dia a dia para comprar o par de alpargatas – roda.
– Olha o milho verde a 1 cruzeiro! Berrávamos eu, o Juvenal, o Vilson Sapinho, Imbi e Ademir Gomes, Pinta e Chico Preto. “Tem troco para cinco”? Chamava o passageiro da última janela.
A Tabela, Paranaguá – Curitiba, chegava às 19:40hs. A venda caía. O pessoal já tinha chupado a famosa mimosa de Morretes, jaboticabas e carambolas…
Nhô Juca Gomes e seu Morílio Martins eram os guarda-chaves; seu Agassis, Julinho e Oswaldo Meleiro os telegrafistas, sob as ordens do seo João Pimentel, austero chefe da estação.
Olha o ovo cozido a cinquenta centavos! Cuidado com o gongo, Ivan!
Olha o ovo cozido a cinquenta centavos! Cuidado com o gongo, Ivan!