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“Memórias em prosa de uma Piraquara do século passado: voltando às aulas!”
Fechando a página de mais um fevereiro de férias em um Domingo de verão a ansiedade estava focada no dia seguinte.
O guarda pó branquinho esticado na cadeira da mesa da sala, a conga azul marinho secando debaixo do fogão a lenha, o pacote de arroz Fabiana que serviria de mala foi escolhido a dedo, o que sobrara do ano anterior pouco se aproveitava: um apontador sem fio, uma tabuada surrada, um caderno de aritmética pela metade, um caderno de linguagem com a propaganda do “projeto Rondon” e a cartilha “Caminho Suave” encapada com plástico cedendo passagem para a da Arraia Mantinha e suas viagens pedagógicas pela costa litorânea, um toco de lápis e uma desgastada borracha, guardados; não esquecidos; numa caixa de papelão num canto do paiol.
Ressabiado, prestava atenção em qualquer movimento da casa, principalmente quando o assunto era o retorno às aulas. De certo mesmo era a mudança no horário, de tarde passaria para as manhãs. Incerto era a professora, com as mãos em prece para que fosse menos enérgica que a anterior.
Sem escapatória, segunda chegara e o Grupo Escolar Manoel Eufrásio após uma breve pausa enchia-se de vida com aqueles que seriam o “futuro de amanhã”; e hoje, nestas linhas; tenho o tempo como paraninfo, o agorinha como testemunha e o currículo daquele terceiro ano primário emoldurado na parede de minhas lembranças.
Da esquina da Roque Vernalha com a Quintino Bocaiúva eram três quadras. A alvura do guarda pó estava com os minutos contados. O pó da Getúlio Vargas somado aos abraços das mãos suadas com o suor dos “pega pega” de cinza tingia.
Da banca do seu Natal vinham as bolas de gude, que na frente do portão, no terrão da Getúlio se davam os embates e o duelo linguístico dos não: não dou escapes, não dou isso, não dou aquilo; e da loja do seu Alaor vinham o material escolar, cuja lista era o suficiente para carregar no pacote de arroz
O ano, 1973. A professora, uma lenda do magistério. Dona Dinda, um misto de mãezona com educadora, sabia dosar disciplina com candura, cobrança com mérito, daquelas que dominava o currículo escolar em um só plano de aula.
Ontem, o que cabia num pacote de arroz, hoje cabe numa capa de celular.
Autor: KALUNGA
Por Edson Francisco de Arruda