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“Memórias em prosa de uma Piraquara do século passado: um conto junino!”
Amor juramentado e sacramentado até que a morte os separe! Junho foi testemunha e padrinho deste enlace em suas noites geladas e enluaradas.
Ele morador no “Buraco Quente”, comunidade ali pelos arredores da Vila Rosa e onde foi a garagem da viação Piraquara. Ela nas casas de “parede-meia” da Rede ao lado da estação Ferroviária.
A passagem de nível do trem era o marco zero da caminhada até o grupo escolar. Em grupos, o que os separavam era o canteiro central da avenida Getúlio Vargas.
Nas duas quadras da linha até o Manoel Eufrásio parecia uma longa jornada. Entre tímidas troca de olhares e acenos, o grupo se revezava em empurrões, pega pega, esconde esconde. No trajeto um oi pros taxistas, uma parada no banco Banestado prá pedir cofrinhos de moeda, um corridão dos funcionários da Prefeitura pela algazarra, um carinho na casa da professora Sílvia, uns 10 centavos de bala na banca de seu Natal e ponto final. Em tempo do sino de entrada tocar e fechar o portão, cada qual na sua sala para então recomeçar no recreio.
Assim seguiam-se os dias nesta rotina, porém, Junho era “o mês”. Duas eram as festas. No grupo, as gincanas, desfile das sinhazinhas nos capôs dos carros e a quadrilha em pleno chão batido na avenida era o auge. À noite, a quadrilha era em volta da fogueira, na rua dos fundos da estação. “As turmas”, assim denominada as comunidades ferroviárias, se reuniam em rodas de sanfona e violão, nas mesas do pinhão e quentão. E as crianças, de novo, correndo e soltando bombinhas para desespero das mães. Por sete anos repetiuse. Promessa a ser cumprida. Segredos entre devoto e São João!
E quanto ao casal? Casaram!
Do trecho até o grupo e do pó das quadrilhas, aqueles olhares inocentes encontraram terreno fértil nos festejos juninos, e o que um dia foi vestido de chita florido virou vestido de noiva, e a trilha das danças caipira deu vez para o girar da valsa no salão.