Reduzir desperdício de alimentos e praticar sustentablidade. É o que ensina projeto a crianças de escola municipal

Pensando em melhorar a qualidade de vida dos alunos no pós pandemia, a professora Luciane Pereira Rocha, que leciona aulas para o 3º ano A da Escola Municipal Izair Lago, na Borda do Campo, criou um projeto focado na sustentabilidade e em hábitos mais saudáveis de vida. E não foi à toa.

Depois de um levantamento em parceria com a Secretaria de Educação, com o professor Lucas dos Reis Moreira, constatou-se que 37% da classe estava com sobrepeso. E mais, a professora, em conjunto com servidores da escola, resolveram pesar as sobras de alimentos das turmas do período da manhã – aproximadamente 250 crianças – durante uma semana. Para a surpresa de todos, foram 44 quilos de comida desperdiçada.

As estatísticas serviram de alerta e também foram a base do projeto que, semana a semana, rendeu vários desdobramentos. Inscrito na categoria ‘Experiência Pedagógica’ do Programa Agrinho, o Projeto ‘Qualidade de Vida no Pós-pandemia’, lançou, em julho, o 1º Desafio Prato Limpo, estimulando os alunos a rever a quantidade de alimentos que iam para o prato, mas nem sempre eram consumidos.

O desafio mobilizou todas as turmas da escola, cerca de 664 crianças. “Diariamente as crianças têm conhecimento do cardápio do dia, que fica fixado na cozinha com as imagens e os benefícios de cada alimento, assim, já decidem antecipadamente o que vão querer comer”, contou a professora. Ao término do mês, com todo o trabalho de conscientização, a redução foi surpreendente: em quatro semanas, o desperdício equivaleu a menos de uma semana, antes de o desafio ser lançado.

“Com esse resultado surpreendente na redução do desperdício, temos certeza que nossas crianças estão mais conscientes em relação ao desperdício alimentar”, destacou a professora.

Só o começo
O combate ao desperdício e o estímulo a hábitos de vida mais sustentáveis foram as bases do projeto, mas não sua totalidade. Outro desdobramento importante foi a ideia de diagnosticar as razões do desperdício de alimentos. Com o uso de um tablet, a professora pediu aos alunos que opinassem pelos alimentos que mais gostavam e que menos gostavam, com base no cardápio formulado pela nutricionista. O levantamento segue em andamento, mas já permitiu à escola identificar alimentos que costumam ser descartados por não serem atrativos para os alunos e que, portanto, poderiam ser substituídos por outro alimento de valor nutricional similar.

Na prática, a alimentação das crianças seria mais completa e o descarte potencialmente menor. “Foram apontamentos que o projeto trouxe e que observamos ser um ganho para a escola toda”, contou Luciane.

Os 80 kg de sobras mensais também terão um destino diferente: em parceria com as secretarias de Educação e Infraestrutura, e a Subprefeitura da Borda do Campo, será instalada uma composteira na escola, que servirá para a adubação da horta – um projeto da professora Lorena, do 1º ano. E quem evita desperdiçar alimento, também não desperdiça água. Para isso, já está sendo planejada a instalação de uma cisterna, que servirá para irrigação das hortaliças.

Em meio às ações, as crianças também assistiram a palestras com nutricionistas, aprenderam sobre as consequências do desperdício e iniciaram um novo cronograma de atividades físicas – caminhadas e corridas passaram a compor as atividades semanais da escola.

Algumas parcerias, de cunho sustentável, também foram consolidadas, a exemplo da parceria, na própria escola, para confecção de sacolas sustentáveis para compras no mercado, visando reduzir o volume de lixo; e a parceria com a Escola Especial Joanna Valache, que desenvolve um projeto de coleta do óleo de cozinha, para a produção de sabão.

Esporte e solidariedade
Como a redução de peso e a necessidade de estimular a prática de exercícios físicos eram metas do projeto, o ‘Qualidade de Vida no Pós-pandemia’ lançou um passeio ciclístico, arrecadando dezenas de unidades de leite, doadas à Pastoral da Criança. O evento mobilizou vários participantes, inclusive de municípios vizinhos, como Pinhais, Almirante Tamandaré, Colombo, Piraquara, Curitiba e Campina Grande do Sul.

Logo depois, os alunos foram convidados para um dia de vivências esportivas na Escola Especial Joanna Valache, onde aprenderam a praticar modalidades adaptadas com os próprios alunos especiais, da turma da professora Priscila, como o golfe e a bocha – um momento de incentivo ao esporte e à inclusão social.

No último sábado (20), também foi promovida uma caminhada com a comunidade, pelo percurso ‘Rota das Cachoeiras’, na Borda do Campo, onde foram arrecadados produtos de higiene, entre outros itens, também revertidos à entidade.

A partir deste contato com a Pastoral, o projeto lançou, de forma simultânea, uma campanha de arrecadação de roupas infantis e brinquedos usados, que serão destinados à instituição no final deste ano. A ação também tem a parceria dos CMEIS Tia Leonor, Tia Cice e Tio Laio, todos localizados na Borda do Campo.

Projeto segue, bons hábitos continuam
Com a realização da caminhada no sábado, o projeto chegou ao seu fechamento no Programa Agrinho, com o plantio de uma árvore por cada aluno e participante da caminhada, e também com outro ato simbólico: as crianças escreveram uma carta contando o que estão fazendo no seu dia a dia em prol de um planeta melhor. Este documento foi colocado na ‘Caixa do Futuro’ e enterrado no pátio da escola, para ser reaberto daqui a dez anos.

“O projeto acabou tendo muitos desdobramentos, utilizando o conceito da sustentabilidade e da qualidade de vida. Tivemos um avanço enorme com a condição física das crianças. Um aluno chegou a perder dez quilos. E não apenas isso. Hoje vemos que as crianças estão mais conscientes, que zelam por um planeta melhor, pela conservação dos recursos ambientais, por uma vida mais saudável e também solidária”, disse a professora Luciane.

Embora o Programa Agrinho tenha seu fechamento agora, o projeto na escola continua. Um 2º Desafio Prato Limpo já está programado para setembro e o término efetivo do projeto acontece em dezembro deste ano.

Doações: Interessados em doar roupas infantis e brinquedos usados, que serão revertidos à Pastoral da Criança, podem entrar em contato com a professora Luciane, pelo telefone: (41) 99645-1670.

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