Projetos de 11 edificações conhecidas contam a história da arquitetura em Curitiba

Para marcar os 330 anos de Curitiba, comemorados neste mês, o Departamento de Gestão do Arquivo Público Municipal, unidade da Secretaria de Administração, Gestão de Pessoal e Tecnologia da Informação (Smap), selecionou 11 edificações importantes da cidade cujos projetos arquitetônicos foram localizados a partir do trabalho de pesquisa da equipe que integra o projeto “O Papel do Arquivo”.

Estudantes e servidores do Arquivo Público têm analisado e digitalizado documentos como alvarás de construção de edificações da cidade. O gerente de Acervo e Pesquisa do Departamento de Arquivo Público, Kelton Sabatke, destaca que o conhecimento guardado dentre os milhares de documentos, fotos, desenhos relativos às construções de Curitiba contam a história da cidade.

“A escolha das unidades de interesse de preservação e dos bens inventariados não foi aleatória. Esses imóveis são importantes para o município não apenas por conta de suas virtudes estéticas e arquitetônicas mas, também, por serem um testemunho edificado de trajetórias humanas, de vidas vividas dentro das paredes de pedra e cal. Preservá-los significa igualmente preservar a memória de curitibanos e curitibanas que ajudaram a construir nossa cidade”, afirma Kelton.

O levantamento mostra nove Unidades de Intereresse de Preservação – UIPs e duas unidades modernas que estão entre os bens inventariados para preservação pelo Município. Neste último grupo estão os edifícios Marumbi e Barão do Rio Branco.

O estudo também apresenta curiosidades, como o campanário projetado para o lado direito da Igreja do Rosário, na Rua Trajano Reis, mas que foi construído do lado esquerdo.

Membro do Conselho Municipal do Patrimônio Cultural, além de servidor de carreira, Kelton é historiador por formação, especialista em patrimônio e restauro e mestre em história contemporânea.

Saiba como pesquisar no Arquivo Público

Para acessar o acervo histórico da Prefeitura, basta fazer o pedido à equipe do Departamento de Gestão do Arquivo Público Municipal, pelo e-mail arquivopublico@curitiba.pr.gov.br.

Você conhece esses lugares?

Saiba mais sobre as edificações pesquisadas pelo Departamento de Arquivo Público

Casa Gomm
Endereço: Rua Bruno Filgueira, 850 – Bigorrilho

Edificada inteiramente em madeira sob encomenda do industrial inglês Henry Gomm e de sua esposa Isabel Withers em 1913, a residência fica em uma imensa área verde chamada, já à época, de Bosque Gomm.

Marcada por uma intensa vida social desde sua construção, a presença de visitantes foi frequente, especialmente, durante as décadas de 1950 e 1960 devido ao fato de Harry Blas Gomm, filho de Henry e também morador da casa, ocupar no período o posto de vice-cônsul da Inglaterra em Curitiba.

Na década de 1980, a propriedade foi vendida pelos herdeiros e, no início dos anos 2000, a residência foi desmontada e realocada no mesmo terreno – a aproximadamente 200 metros de sua localização original – para ceder espaço à edificação de um shopping center. Atualmente, a Casa Gomm sedia a Coordenação de Patrimônio Cultural paranaense.

Palacete Joaquim Augusto de Andrade
Endereço: Rua Riachuelo, 113 – Centro

Ao lado do Paço da Liberdade, antiga sede da Prefeitura de Curitiba, o belo palacete em estilo eclético e de uso misto foi construído em 1915.

O pavimento térreo destinava-se às atividades comerciais e os superiores serviram inicialmente como residência ao coronel Joaquim Augusto de Andrade (1864 – 1956) e sua esposa, Maria José Rebelo de Andrade.

Importante empresário local, Andrade destacou-se na política tendo ocupado os cargos de vereador, prefeito interino de Curitiba (enquanto presidente da Câmara) e deputado estadual. Foi, ainda, diretor do antigo Banestado e presidente do Jockey Club do Paraná. Atualmente, o palacete é utilizado para fins comerciais.

Palacete Tigre Royal
Endereço: Praça Generoso Marques, 138 – Centro

O Palacete Tigre Royal foi projetado em 1916 pelo arquiteto Valentim Maria de Freitas sob encomenda da família de imigrantes libaneses Fatuch. Localizado na então chamada Praça Municipal, o imóvel foi edificado em estilo eclético para uso misto, tendo o pavimento térreo abrigado diversas atividades comerciais desde sua construção e, o andar superior, servido como residência para Elias Pacífico Fatuch e sua família.

Como curiosidade, o projeto original previa a implementação de uma escultura de tigre sobre a fachada, ornamento que acabou substituído na versão final da construção. Atualmente utilizado para fins comerciais.

Villa Odette
Endereço: Avenida João Gualberto, 518 – Alto da Glória

Projetada em estilo normando pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves sob encomenda da família Leão, a Vila Odette é uma imponente residência que integra a lista das unidades de interesse de preservação do município de Curitiba. Ao lado do Palacete Leão Júnior, a casa foi construída entre 1923 e 1928 para servir de moradia a Agostinho Ermelino de Leão e sua esposa Odette Pereira de Leão.

Pouco visível da via pública atualmente por conta do bosque que o cerca, o palacete se destaca pelos detalhes em estilo enxaimel de suas fachadas e a opulência de seus 825 m² de área construída, testemunho inconteste da riqueza gerada no município pelo beneficiamento e comercialização da erva-mate entre o final de século 19 e as primeiras décadas do século 20.

Palacete Guimarães – Castelo do Batel
Endereço: Avenida do Batel, 1.323 – Batel

O Palacete Guimarães, também conhecido como Castelo do Batel, era propriedade de Luiz Guimarães, cafeicultor de grande destaque em Curitiba.

Em 1924, Guimarães solicitou ao arquiteto Eduardo Fernandes Chaves um projeto semelhante aos palacetes que usualmente encontrava em suas viagens à França, especialmente na região do Vale do Loire. Muitos dos materiais empregados na construção e na decoração eram provenientes da Europa, o que fez com que o castelo ficasse pronto somente quatro anos após o início das obras.

A partir de 1947, o imóvel serviu como residência ao então governador Moysés Lupion e, durante seu período como morador, foram recebidos no castelo hóspedes ilustres, como o jornalista Assis Chateaubriand e os presidentes Juscelino Kubitschek, Eurico Gaspar Dutra, Jânio Quadros e João Goulart.

Na década de 1970 o palacete passou a sediar a TV Paranaense. Reformado nos anos 2000 após a mudança da emissora para o bairro Mercês, atualmente é utilizado como espaço para eventos.

Funerária de Pedro Falce
Endereço: Rua Saldanha Marinho, 94 – Centro

Imigrante de origem italiana, Pedro Falce foi um dos principais empresários do ramo funerário na Curitiba de início do século 20. Sua empresa funcionou inicialmente na Rua América (atual Trajano Reis) até ser transferida para um suntuoso palacete na Rua Saldanha Marinho esquina com a Rua do Rosário. Na sequência, outros sobrados contíguos foram edificados para abrigar as demais dependências de sua empresa.

Em suas novas instalações, Falce passou a oferecer serviços de luxo, com carruagens para transporte do féretro com a pompa que o momento das exéquias demandava. Manteve-se nos negócios até seu falecimento em 1946.

Como curiosidade, Falce foi um dos participantes da expedição que, em 1895, recuperou o corpo do Barão do Serro Azul, cruelmente assassinado e sepultado clandestinamente no Pico do Diabo na Serra do Mar, tendo sido responsável também pela inumação dos despojos do Barão no Cemitério Municipal São Francisco de Paula.

Palácio Avenida
Endereço: Avenida Luiz Xavier, 11 – Centro

O Palácio Avenida foi construído sob encomenda do empresário sírio-libanês Feres Merhy entre 1927 e 1929.

Projetado em estilo eclético por Valentim Maria de Freitas, Bernardino Assumpção Oliveira e Bortolo Bergonse, o Palácio Avenida abrigou durante sua longa história salas de cinema, cafés e, em especial, instituições bancárias. A edificação também é conhecida nacionalmente por sediar, desde 1991, as apresentações natalinas do coral de crianças.

Como curiosidade, o projeto original previa a construção de uma cúpula em formato de bulbo no coroamento da fachada que acabou sendo substituída por um ornamento mais simples com o acrônimo do nome de seu primeiro proprietário: “FM”.

Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos de São Benedito
Endereço: Rua Trajano Reis, 14 – São Francisco

A história da Igreja do Rosário oferece um importante testemunho sobre a escravidão em Curitiba: originalmente edificada em 1737 pelos cativos, o templo era utilizado pelos escravizados que professavam a fé católica, mas eram impedidos de frequentar a mesma igreja que seus senhores.

Com o fim da escravidão em 1888, a presença de imigrantes europeus entre os fiéis que frequentavam as missas no santuário tornou-se corriqueira, especialmente, devido à realização no local de incontáveis missas de corpo presente em função da proximidade do templo com o caminho que conduz, via Rua Trajano Reis, ao Cemitério Municipal São Francisco de Paula. Essa nova função simbólica conferiu à Igreja do Rosário a alcunha de “Santuário das Almas”.

Personalidade de destaque do clero curitibano, a trajetória do Monsenhor Celso Itiberê da Cunha confunde-se com a da igreja. Responsável pela comunidade por décadas, partiu do próprio religioso a iniciativa da construção de uma nova edificação no local em substituição ao antigo templo colonial, no entanto, o reverenciado monsenhor acabou falecendo em 1931 sem ver seu intento realizado.

Inaugurada somente em 1946, a bela Igreja do Rosário foi projetada em estilo barroco pelo arquiteto Eduardo Fernando Chaves no ano de 1937. Do templo original construído pelos escravos sobraram, infelizmente, apenas os azulejos que adornam a fachada. Atualmente, abriga os restos mortais de seu idealizador – o saudoso parnanguara Celso Itiberê – sepultado próximo à entrada lateral.

Como curiosidade, o projeto original previa a construção do campanário à direita da entrada principal, entretanto, essa estrutura foi efetivamente edificada à esquerda do templo.

Edifício Marumbi
Endereço: Rua XV de Novembro, 864 – Centro

Um dos primeiros condomínios residenciais de capital, o Marumbi era à época de sua inauguração – no final da década de 1940 – o maior arranha-céu curitibano. Residir no prédio que, em seu nome, homenageia um dos picos mais elevados da região sul do Brasil era um privilégio para poucos, que desfrutavam de amplos apartamentos com vista privilegiada de Curitiba.

Projetado pelo arquiteto Romeu Paulo da Costa e edificado pela Construtora Gutierrez, Paula & Munhoz, o Marumbi ainda hoje se destaca no panorama urbano da Praça Santos Andrade por conta de suas linhas de inspiração art déco e da imponência de suas fachadas.

Casa Belotti
Endereço: Rua Dr. Faivre, 621 – Centro

Projetada na década de 1950 pelo eminente arquiteto curitibano Ayrton Lolô Cornelsen sob encomenda de seus amigos Nine e Medoro Belotti, revela-se um dos mais belos exemplares da arquitetura modernista em nossa capital, fato reconhecido com sua inclusão no rol de unidades de interesse de preservação pelo município.

Edificado sobre pilotis, o imóvel conta com amplas janelas que garantem a ventilação e iluminação. A divisão entre os espaços público e privado foi suavizada pela comunicação entre os ambientes internos e, além disso, a casa conta com um mezanino, solução construtiva pouco convencional à época em Curitiba.

A residência serviu de moradia à família Belotti até 1959, sendo vendida a uma fábrica de louças para que ali se instalasse um de seus diretores. Já nos anos 2000 a casa foi restaurada pelos arquitetos Gabriele Websky Meier e Hugo Umberto Carmesim sob supervisão de Ayrton Lolô Cornelsen e, atualmente, abriga um restaurante.

Edifício Barão do Rio Branco
Endereço: Rua Barão do Rio Branco, 63 – Centro

Construído entre o final da década de 1950 e início da de 1960, o edifício projetado por Salvador Cândia e Rubens Meister fica na esquina da Rua Barão do Rio Branco com a Avenida Marechal Deodoro. Apesar de suas fachadas já terem sido alteradas em relação ao projeto original, ainda se destaca pela beleza de sua arquitetura e, em função disso, foi incluído entre os bens modernos inventariados para preservação pelo município.

 

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