A Conversão Ecológica

Por Redação 4 min de leitura

Da encíclica Laudato Si’

Tudo o que o Evangelho nos ensina deve ter consequências em nosso modo de pensar, sentir e viver. Por isso, uma espiritualidade da sustentabilidade deve partir das convicções de nossa fé. Nossas motivações que alimentam uma verdadeira paixão pelo cuidado do mundo, devem derivar de uma espiritualidade profundamente ligada às dinâmicas de nosso século, ou seja, uma espiritualidade do século XXI, uma mística comprometida com a transformação de nossa realidade em direção à sustentabilidade.

Sabemos que não é possível dedicar-se a grandes coisas apenas com doutrinas ou teorias, sem uma mística que nos encoraje, sem “um movimento interior que impulsione, motive, encoraje e dê sentido à ação pessoal e comunitária”, como diz a Laudato Si’. A espiritualidade não se desvincula do próprio corpo ou da natureza ou das realidades deste mundo, mas vive com eles e neles, em comunhão com tudo o que nos rodeia. Lemos na Laudato Si’ que se “os desertos exteriores se multiplicam no mundo – a desertificação das paisagens e dos ecossistemas – é porque os desertos interiores se tornaram demasiado grandes”.

A crise ecológica é um chamado a uma profunda conversão interior. Mas é verdade que também deve se reconhecer que muitos cristãos, mesmo comprometidos e piedosos, não se sensibilizam com o irmão sol ou a irmã lua e todas as formas de vida, e se mantém afastados da preocupação com o meio ambiente. Outros são passivos, sem vontade de mudar seus hábitos e vidas, tornando-se profundamente incoerentes. Falta-lhes uma conversão ecológica que permita emergir todas as consequências do encontro com o Ressuscitado, nas suas relações com o mundo que os rodeia, toda a radicalidade do encontro com o Criador e a Criação. Viver a vocação de serem administradores da obra de Deus na vida cotidiana não é algo opcional ou secundário da experiência cristã, mas parte essencial da existência humana.

Isso exige uma parte difícil: olhar para dentro, ver a si mesmo, reconhecer os próprios erros, omissões (geralmente muitas omissões), vícios ou negligências e buscar uma nova vida, mudando o seu próprio interior. Esse é um primeiro passo.

Um segundo passo é entender que para resolver uma situação tão complexa como a que o mundo enfrenta hoje, não basta que todos sejam melhores. Indivíduos isolados perdem, com frequência, a capacidade de superar a lógica da degradação em larga escala e acabam sucumbindo a um mundo sem ética ou sentido social e ambiental. O Papa Francisco diz que “as demandas deste trabalho serão tão grandes que as possibilidades de iniciativas individuais, feitas de maneira isolada, não poderão responder a elas. Será necessária a união de forças e a unidade de contribuições”. Em conclusão, a conversão ecológica, necessária para criar um dinamismo de mudança duradoura, é também uma conversão comunitária.

Esta conversão implica várias atitudes que se combinam para ativar uma generosa atenção ao mundo. Em primeiro lugar, implica a gratidão e a gratuidade, o reconhecimento do mundo como dom recebido do Criador, que consequentemente leva à renúncia gratuita e aos gestos generosos, mesmo que ninguém os veja ou agradeça. E implica também a consciência amorosa de não estar separado de outras criaturas, mas de formar uma maravilhosa comunhão universal com os demais seres do universo.

Oração pela nossa terra

oração final da encíclica Laudato Si’

Deus todo-poderoso, que estais presente em todo o universo e na menor de suas criaturas. Tu, que rodeias com tua ternura tudo o que existe, derrama em nós a força do teu amor para que cuidemos da vida e da beleza. Inunda-nos de paz, para que vivamos como irmãos e irmãs sem prejudicar ninguém. Deus dos pobres, ajuda-nos a resgatar os abandonados e esquecidos desta terra que valem tanto aos teus olhos. Cura nossas vidas, para sermos protetores do mundo e não predadores, para que semeemos beleza e não poluição e destruição. Toca os corações daqueles que buscam apenas benefícios à custa dos pobres e da terra. Ensina-nos a descobrir o valor de cada coisa, contemplar com admiração,

A reconhecer que estamos profundamente unidos com todas as criaturas em nosso caminho para sua luz infinita. Obrigado porque estais conosco todos os dias. Encoraja-nos, por favor, em nossa luta pela justiça, amor e paz.

Pesquisa / Formatação: Irmã Ailda Brudéck Klüppell, CP

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