A árvore e eu

(Este poema foi transformado em sketch pela produção de A poesia sobe ao palco e apresentado no Grande Auditório do Teatro Guaira em 15 de setembro de 1983. Lotado)

Estou de joelhos sobre as tuas cinzas, arrependido e contrito, humilhado e vencido, de mãos juntas, pedindo que me perdoes. Quando nasci, transformaram-te em meu berço e pelas tuas paredes até hoje sou abrigado. Quando criança ainda, fostes cega, surda e muda amiga minha e em teus galhos me escondias livrando-me dos chinelos da minha mãe, a dona Nenê. Para o meu pai, o Mané Cearense e para tantos outros entes queridos, servistes de proteção contra os vermes da terra, abrigando-os na viagem de retorno ao Criador.

QUE FIZ EU DAS MINHAS JABUTICABEIRAS, PITANGUEIRAS, ABACATEIROS E LARANJEIRAS? ONDE ESTÃO MEUS IPÊS, MEUS CEDROS, MINHAS PEROBAS? QUE ERAM O VERDE DA MINHA BANDEIRA? QUE ERAM O VERDE DOS OLHOS DA MINHA ELIZA?

Fui eu mesmo, inconsciente e brutal assassino quem, empunhando covardemente um machado, destruí capões e selvas inteiras. Deitei abaixo o gigante jatobá, não tive dó nem do indefeso jaracatiá. Agora – diante deste deserto que eu mesmo fiz nascer, tremo, choro de medo e ao meu derredor sinto triste solidão. O sol faz ferver a terra, secar meus rios e chuvas não as vejo mais.

AMADA NATUREZA AGONIZANTE, TENDE PIEDADE! QUE NÃO SEJA INCLEMENTE A TUA VINGANÇA.

Tenho esperança que n’algum dia voltaremos a nos encontrar. Adeus! Mas eu te prometo – VOU SAIR POR AI REPLANTAR! Quero que voltes a me agasalhar com a tua sombra, quero ver as cores refletidas nas águas do Ivaí, do Iguaçu, do Piquiri, do Tibagi e do Paranazão. Quero erguer as mãos e pedir, não mais perdão, mas uma florzinha amarela para enfeitar as louras tranças das minhas filhas Ana Eliza e Alessandra Emanuella.


Parreiras Rodrigues

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