O SÉTIMO FILHO DO TELEGRAFISTA

 

Era outubro de 1943, o telégrafo da estação de trem de Piraquara, parou por algumas horas, assumiu o posto do telegrafista o guarda chaves, seu Tito. O seu Juca o telegrafista foi chamado as pressas, sua esposa Dona Adelaide, estava em trabalho de parto, assistida já por algumas horas pela parteira a Dona Josefina. E as dez horas da manhã, nascia o sétimo filho do telegrafista:  Marco Aurélio.

Logo após o parto, Dona Josefina desceu a descida do Kowalczuk, e parou em frente ao bar do Bastião manco , e deu a notícia:

– Acabou de nascer o sétimo filho do telegrafista!

Emilio Rita que estava escorado no balcão, quase caiu, e foi logo dizendo:

– Põe mais uma. E tomou o martelinho num gole só.

– E em seguida foi dizendo:  meu Deus, Deus meu!

O pessoal do carteado, parou de jogar e guardaram o baralho, e o jogo de bocha foi interrompido, era noticia ruim que chegava.

Diz a lenda que de uma família de sete irmãos homens, o sétimo ou último a nascer, pode ser um lobisomem. Os ingleses levaram esse assunto muito a sério, e até criaram uma ciência para estudar o assunto, se chama Licantropia. Com o passar dos anos, os lobisomens praticamente se extinguiram, porque as famílias de um modo geral passaram a ser menores, na sua maioria tinham de dois a três filhos, e naquela época não havia tanta tecnologia, internet  e diversão.

Mas voltando a estória de nosso personagem, Marco Aurélio teve uma infância e adolescência  normal, como todo jovem do interior,  estatura alta, cabelos loiros, olhos verdes, desde cedo começou a gostar de música, já tocava gaita e violão. Porém quando completou vinte anos de idade, começou a sentir dores e sensações diferentes. No período da lua cheia sentia fortes dores de cabeça, e diversas sensações diferentes, nesse período de lua cheia, todos os seus sentidos se aguçavam, o olfato conseguia sentir um cheiro a quilômetros, e as vezes enxergava diferente, como fosse a cento e oitenta  graus. A lenda estava de certa forma se confirmando, ele era um lobisomem.

Impressionante como o lobisomem é conhecido. Fala-se dele no mundo inteiro. Por aqui, como não poderia deixar de ser, também. As suas origens são desconhecidas e obscuras.

Por aqui no Brasil,  chegou certamente trazido pelos europeus. Os nossos figuras são outros, saci Pererê, mula sem cabeça, kuka, etc. Meio gente, meu lobo, que se transforma exatamente às 21 horas das sextas feiras de lua cheia, tudo segundo os melhores livros da área. Em função dessa sazonalidade, aparece pouco. Só algumas vezes no ano. E tem mesmo? Bem, há livros, fotos, pessoas que viram  é bem cotado dentro da estrutura cultural. Até cartão telefônico com sua estampa já saiu. Se de fato não existe, deveria existir. Faz parte do cotidiano. O curioso de que a sua prevalência é mais interiorana. Nas grandes cidades fica só no falatório. Jô Soares,  bem comentou sobre isso e assemelhados. Comentou que, também os ETs só aparecem lá nos fundões. Brejão das Antas, Riachão do Bacamarte, Barra do Sabugueiro e por aí. Por que não aparecem em São Paulo? Perguntou? Talvez até apareçam, ele é quem não os achou.

Marco Aurélio, nosso personagem ,reinou solitário por muitos anos. Suas passagens foram descritas pelas pessoas e locais das mais variadas, mas nunca fez mal a ninguém. Tinha, endereço, atividade, só não tinha CPF porque isso na época não existia. Morreu de velho. Ninguém se atreveu a atingi-lo com bala de prata conforme manda a tradição e a balística também. Faca também funciona, mas tem de ser de prata. Aí é que entra o misticismo e o obscurantismo. O que faz a prata, nesses casos, o chumbo e o ferro também faz. Mas isso, já é outra ciência…

Cezar A. Sizanoski                                                               

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