Espiritualidade Passionista

A Espiritualidade Passionista, não é outra coisa senão a espiritualidade cristã, ou melhor, é um aspecto da espiritualidade Cristã, um jeito de olhar Cristo e a partir desse olhar aprofunda-se e passa-se a testemunhar a espiritualidade cristã – ser Passionista para ser mais cristão. A Espiritualidade Passionista, como a franciscana, a dominicana, etc. É uma espécie de óculos que usamos, diferente, mas centrado num único ponto: JESUS CRISTO.

Nossos óculos chamam-se cruz, paixão, reparação – intercessão. Pegamos a cruz e a lente do amor e aí vemos as pessoas, o mundo, o cosmos. A espiritualidade Passionista significa ver todas as coisas através e a partir do amor crucificado. Eu “empresto” os olhos do Crucificado para ver as coisas…

Paulo da Cruz nos ensina, ao contemplar o Crucificado, a compreender que Jesus não sofreu e morreu para termos pena dele, mas para descobrirmos o amor divino que, através da cruz, nos coloca a serviço da redenção libertadora e santificadora.

A espiritualidade Passionista pode ser vivida de forma mais superficial ou mais profunda. Mais superficial, não quer dizer falsa.

Superficial: Apenas algumas devoções que me recordam os últimos momentos da vida de Jesus.

Mais profunda: Compreender o mistério da Paixão, de dentro para fora, a partir do Crucificado. Nesse sentido, Paulo da Cruz vai afirmar que a Paixão de Cristo é um mar de dor e de amor. Para adentrar esse mistério é preciso mergulhar, sem medo.

DIFERENTES ESPÍRITOS

Quando falamos em espírito/ espiritualidade geralmente pensamos em termos positivos, porém, há espíritos bons e maus, então temos espiritualidades boas e espiritualidades más. Ex: uma pessoa ambiciosa, escrava do dinheiro, exploradora, tem muita espiritualidade, mas de egoísmo, ambição. É a paixão pelos bens. Hitler teve uma grande espiritualidade (paixão) lutando para construir uma “raça pura. ” A espiritualidade vai além do pessoal, é comunitária, de um povo, de uma cultura. É patrimônio dos seres humanos é a motivação da vida, inspiração de sua atividade…sejam elas boas ou não.

MEMÓRIA (REMÉDIO) E ESQUECIMENTO (DOENÇA)

A Espiritualidade Passionista parte de uma negatividade, de uma constatação feita por São Paulo da Cruz, de algo que está acontecendo na Igreja e na sociedade do seu tempo: o esquecimento da Paixão de Jesus. Na verdade, Paulo descobriu que os que recordavam a Paixão não estavam fazendo memória do que se passou naquela sexta-feira santa. Havia muitos crucifixos nas paredes, se rezava a via-sacra com muita devoção e outras expressões se centravam no Cristo sofredor, mas não se fazia a verdadeira memória da Paixão: as pessoas estavam esquecendo o porquê da morte de Jesus. Paulo teve muita coragem e profundidade para afirmar isso.

Temos então o mandato de fazer memória e temos o mandato de indicar e assinalar o esquecimento. São duas faces da mesma moeda. Temos que permanecer um tempo observando como e quando se produziu em nossa sociedade, em nossa Igreja, nas vidas humanas, este esquecimento e depois oferecer o remédio: A Memória da Paixão.

Não basta o médico realizar o diagnóstico do paciente é preciso também oferecer o remédio que cura. Às vezes somos bons especialistas em diagnóstico, mas não oferecemos o remédio. Outras vezes, queremos oferecer o remédio, sem fazer o diagnóstico.

A MEDITAÇÃO DA PAIXÃO

Para Paulo da Cruz, o Passionista deve meditar e ensinar a meditar a Paixão de Jesus (dimensão orante/contemplativa). Para isso é preciso adentrar os textos bíblicos da Paixão e fazer perguntas: Quem, como, quando, por quê? Ver as pessoas da cena: o que fazem, o que falam, o que sentem? Dessa forma vai-se descobrindo o verdadeiro Jesus e adentrando nos seus sentimentos.

Paulo quis a veste de luto para os religiosos e que levassem o emblema no peito. Ele ensinava jaculatórias ao povo para despertar bons sentimentos e boa vontade, como forma de arrastá-lo pela força do Espírito Santo. Meditar a Paixão para Paulo é trazer a vivência interior de Jesus e sua experiência histórica e, sendo Jesus atual e operante, fará com que a pessoa atue igual a Ele. Isto para Paulo já é fazer a Memória da Paixão, pois vai se configurando com Cristo.

TER OS MESMOS SENTIMENTOS DE JESUS (FL 2,5)

A devoção profunda faz recordar os sentimentos do Crucificado, as opções pelas quais Jesus foi até a morte. Porém estas opções Ele não as fez na quintafeira santa, mas elas foram crescendo ao longo da sua vida. Por essas opções Jesus viveu, falou, pregou, discutiu e foi até a morte, terminando numa cruz. A Memória significa recordar a vida, a causa pela qual Ele morreu. Se não for assim, não entenderemos a morte de Jesus. Trata-se de ter os mesmos sentimentos que Ele teve.

É preciso ter os mesmos critérios para discernir situações, as mesmas opções, o mesmo olhar… Quais sentimentos Jesus teve no alto da cruz, ao contemplar a multidão que não sabia o que fazia, ao morrer entre dois ladrões, ao contemplar a mãe e o discípulo amado, sua nova comunidade?

O abandono de Deus, ao ter sede, ao sentir que a missão terminava? As coisas que doeram, que feriram o coração de Jesus, são as que em nós têm que doer. Esses sentimentos é que devem nos acompanhar no encontro com os crucificados: os sem pão, sem-terra, sem lar, sem educação, sem saúde, sem trabalho, sem carinho, sem sentido na vida.

O evangelho mostra claramente as causas porque Jesus foi crucificado. Podemos fazer apenas uma leitura sacra e litúrgica da morte de Jesus e não alcançar os sentimentos do seu coração. Os motivos são muito mais importantes do que a morte em si, porque não é qualquer maneira de viver e morrer que é uma morte pascal. Somente buscando os sentimentos de Jesus é que a nossa vida poderá adquirir um sentido muito mais profundo de entrega e compromisso. Há muito o que escutar no silêncio de Cristo Crucificado. A Espiritualidade Passionista, é vivida à luz do Evangelho! São Paulo da Cruz, a deixou para a Congregação dos Passionistas.


Irmã Ailda Brudéck Klüppell,CP

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