“Memórias em prosa de uma Piraquara do século passado: Frei Rui eterno!”

Agosto, o mês que nunca finda, nos contempla com três afetivas celebrações: Bom Jesus dos Passos; padroeiro do município; dia do padre e Domingo dos pais. Às três comemorações tão próximas e significativas dedico o seguinte texto por ocasião da partida do Frei Rui, em junho de 2020:

“Quem da comunidade não tem uma lembrança desse consagrado Franciscano que dedicou grande parte de sua vida em nosso solo? Como bom religioso cumpriu a risca os seus votos de pobreza e obediência. Suas desgastadas sandálias deixaram marcas profundas em nossas memórias, pegadas que ecoam nas profundezas de nossas almas através de cada bênção generosamente concedida, a cada hóstia consagrada, a cada palavra proferida em nome do Evangelho que tão bem representou.

Pobre e obediênte, nos deixou órfãos nas manhãs de Domingo. Seu único bem foi seu amor e apego por uma gente excluída, irmãos que carregaram a triste sina de que a doença que Jesus Cristo em seus inúmeros milagres curou esteve presente em nosso tempo, e em meio a tanta dor e ferida soube afagá-las e doar esperança.

O Rui que hoje parte leva um pedaço, uma história de muitos, seja numa visita a um casal em conflito, na fome de uma cesta básica, na apresentação de um filho de Deus no batismo, na comunhão do pão da vida, na união dos laços sacramentais do matrimônio, na paz e conforto da unção dos enfermos ou nos seus longos e amáveis sermões, um dia o fez chorar.

Coração duro, puro músculo coronário, o fez chorar como agora.

Foi numa dessas missas de Domingo. Esse homem realmente pertenceu aos excluídos, e como tal, desta feita dividiu o Altar com um padre surdo mudo.

Generoso e bom anfitrião, concedeu ao concelebrante visitante dar o sermão, traduzido em libras.

Até aí tudo bem, narrativa de uma missa perfeita.

Porém no momento da consagração, nesse ato tão sublime que nos remete à Santa Ceia, o padre convidado o surpreendeu consagrando a hóstia e o vinho em sua própria pronúncia. Impotente e desarmado, ao som de “grunhidos”, em sua soberba e pequenez, diante daquele gigante servo de Deus se emocionou, desabou em prantos, chorou e meditou em lágrimas. Em estado de Graça, diferente e numa leveza interior foi prá casa, ciente que depois desta liturgia, entre tantas que viriam, esta o marcaria profundamente para sempre!

Frei Rui foi assim, criativo! Dotado de grande espiritualidade, suas missas sempre traziam mensagens transformadoras, vivências marcantes como esta.

Deixou o seu recado, e hoje a sua mensagem e exemplo multiplicam- se em orações e preces de Gratidão a Deus por nos ter dado mais um de Seus milagres: a sua passagem por aqui Frei Rui!”


Por Edson Francisco de Arruda

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