“Memórias em prosa de uma Piraquara do século passado: criança nas lidas da infância!”

Num tempo em que criança nascia, crescia, apanhava prá virar gente e conforme a rebeldia no raiar de seus 17, 18 anos pegava o trecho e seguia sua sina mundo a fora.

Criança amadurecia no vai e vem da enxada, no rachar de lenha do machado, nos cuidados da “criação” caseira, nas oportunidades que o mercado de trabalho oferecia; e eram muitas nas fábricas de gaiola, pipoca, plástico, bala, café, olaria, padaria, mercado, no comércio ambulante na estação de trem.

Criança amadurecia conforme crescia, tão rápido quanto as escapadas de moleque para uma nadada no 87 ou nas fugas furtivas pulando cerca com as frutas do vizinho. E tinha fruta! As de inverno eram as prediletas, abundantes em cáqui, ameixa, mimosa.

Na área do seu Aço aquele pomar dourado de mimosa era um tesouro a explorar. Aventuras que ao anoitecer acabavam ou no estalar da cinta ou nas ardidas chineladas. Não havia como escapar. A mimosa entregava pelo cheiro e o rio pela roupa úmida. “Na próxima será de cinta, pois o chinelo só deixa ainda mais sem vergonha!” , frase pedagógica que ainda ecoa nas lembranças. ““Criança nascia, crescia, apanhava, amadurecia e estudava.

Tempo da cartilha, dos cadernos de caligrafia, de aritmética e o padrão de português; da temida tabuada, da Arraia Mantinha e suas viagens apresentando um gigante Brasil que até então não se conhecia. No primário o magistério era só de professoras.

Eram como uma segunda mãe. Respeitadas, queridas, e enérgicas. “Estudem que amanhã vou tomar o ponto de vocês!”. Quem dormia com uma senha destas? Chegada a hora do desafiador “ponto”, uma espécie de perguntas oral, as pernas tremiam, pois a reguada naquele tempo cantava alto nos mais oreiúdo: “quem não souber vai levar bolinho!”. “Destas memórias vem um testemunho: final de aula, a professora já cansada, com o giz formula uma conta simples de multiplicação.

O aluno diante do quadro negro trava e não consegue resolver, no que resulta num tapa de sair sangue do nariz. A professora dá os socorros necessário, coloca a cabeça do aluno na torneira do tanque sob a água gelada até estancar o sangue. O guarda pó branco, uniforme da época, fica vermelho.

A professora dispensa o aluno para ir prá casa e leva outra surra, pois no entender da mãe o oreiúdo brigou na escola. Era assim, foi assim! Criança nascia, crescia, apanhava prá virar gente, amadurecia, estudava e apanhava prá virar doutor.“Hoje aquela criança de vez em quando aparece nas memórias e pergunta cadê os pomares, cadê o 87, cadê a estação, onde estão as professoras, cadê a mãe? As lágrimas e a saudade respondem!

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