“Memórias em prosa de uma Piraquara do século passado: um dia das mulheres de outrora!”

O entardecer na turma 11 foi de luto. O caçulinha da comadre, arteiro e na traquinagem de seus três anos num descuido cruzou a fronteira proibida da porta da casa e foi brincar de pular dormentes, no que na sua ingenuidade era o seu quintal. No beijo da litorina serra abaixo virou anjo e foi brincar nas nuvens.

O anoitecer na turma ao lado foi de tristeza e consternação pela perda do afilhado. Cansada pela dura lida ainda encontrava energia para andar um bom trecho pelos trilhos e levar uma palavra de conforto á comadre. Sob a luz do lampião cortando a escuridão noite adentro, as pedras não eram nada perante as lágrimas de uma mãe enlutada. Na mente a programação pro dia seguinte, promessa de mais um dia duro. Além das tarefas da casa, teria mais uma desafiadora pernada. Dia de pagamento, com as latas de mantimentos vazias a jornada era rumo a cooperativa. Com uma criança ao colo e outra agarrada na saia, com tamanha destreza equilibrava as compras na cabeça com aquele sorriso de que no jantar teria charque com batata.

No paradoxo da vida, a madrugada da turma do meio foi de alegria. Nascia o sexto filho da esposa do telegrafista. De parto normal aos cuidados da velha parteira, que de suas mãos já passara uma geração, desligava mais um cordão umbilical.

Saía a parteira chegara a benzedeira. Passadas semanas o recém nascido minguava e esmorecia em choro. Diagnóstico: “doença do macaco”! Procedimento: “simpatia”! Entre rezas e faixas enfim o silêncio. Criança curada pronta prá crescer e brincar de maquinista.

Na lida da rede não havia tempo prá luto nem prá resguardo.

As lágrimas misturam-se no suor do quarar dos cueiros e no amassar do pão, nos cuidados das crias e no preparo das refeições.

Feliz dia das mulheres de outrora e de agora!

Autor: KALUNGA
Por Edson Francisco de Arruda

Compartilhe este artigo!