“Memórias em prosa de uma Piraquara do século passado”

Anos 70, pontualmente as 05:45 a Kombi corujinha 1.200 com 36 cv carregada até o teto de pão e leite sofria no chão batido da subida do Kowalczuk.

Abastecida na única padaria da região, corajosamente era quem fornecia o pão do dia a dia nos limites de Piraquara, Borda do Campo, Quatro Barras e Campininha. Sua epopéia começava na mercearia do Cabo Tatú na Vila Rosa, passando pela mercearia do seu Ivo na pracinha da Borda do Campo, no bar do seu Bépe e mercado Creplive no centro de Quatro Barras, culminando no último comércio no Rio do meio na Campininha. No trajeto sacolas e mais sacolas penduradas nas cercas com o dinheiro enrolado ao bilhete do pedido com a quantidade dos pães d’água, bengala e pacotes de leite a serem entregues nas residências. Foi um tempo de confiança e respeito, porém o que marcou foi justamente o roncar do motor da corujinha que da cama do quarto anunciava que chegara a hora de levantar.

14:30 h de sábado, o trem vindo de Curitiba fechava a semana do comércio ambulante na estação e a circulação dos trabalhadores de uma cidade dormitório. Os moradores provisionavam suas dispensas e geladeiras para o final de semana na parte da manhã, auge do movimento na Getúlio Vargas. Depois disso, recolhidos em suas casas, o que imperava era o silêncio, quebrado apenas pelo rádio no último volume dos taxistas fanáticos pelos jogos do Coxa em frente ao comércio dos Zeni. Foi um tempo bucólico nas tardes de sábado em que rádio e futebol era o som de uma cidade com costumes de fazenda.

Vardo Meleiro, grande apicultor e produtor de mel morava paralelo a linha de trem e tinha como vizinho o 87, rio em que a piázada gazeava aula para nadar e passar as tardes. Na propriedade havia um portentoso tanque, o tanque do Meirelles, cujo ladrão quando aberto desenbocava no 87.

Ao cair da tarde, já com o rio quieto e com o agrado de um Velho Barreiro, o amigo abria o ladrão para que através das águas correntes os lambaris passassem pelos caniços no 87.

O barulho da cascata do ladrão marcou um tempo de rios limpos, mergulhos, pescarias e a saudade de um amigo folclórico.

Do auto falante da Igreja Matriz ainda é possível escutar a música que silenciava a cidade para em seguida anunciar a nota de falecimento de um tempo em que todo mundo se tratava como compadre e se conhecia, e quem sabe, depois da missa de Domingo passar no coreto e ouvir a banda do seu Atílio e seus instrumentos de sopro.

Entre ecos e memórias, parabéns minha cidade pelos seus 134 aninhos!


Autor: KALUNGA
Por Edson Francisco de Arruda

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