Perdão Jesus

Estou comemorando o dia do Teu nascimento. Sentado a uma rica mesa coberta por finas toalhas, plena de pratos os mais diversos e requintados.

Caras bebidas jorram nas taças que se erguem continuamente em brindes e vivas. Sacrilegamente saúdo a todos gritando Teu nome, festejando o Teu aniversário. Algo, porém, me inquieta, me constrange. Lembro-me do Teu vir ao mundo. Um humilde jumento, um boi indiferente, assistiram o episódio que modificaria completamente a história da humanidade: o episódio do parto da mais Santa das mães. O berço no qual fostes colocado foi o mais pobre dos berços. Esquecem os homens que numa escura e fria gruta nasceu o Rei dos Reis? Nasceu e sua vida foi um eterno caminhar para o sacrifício.

Crucificado por nós mesmos Vós vos entregastes pela remissão de nossos pecados. Talvez para abrandar a ira de Teu Pai em face dos nossos crimes. E nós Te assassinamos. E através dos séculos, na data comemorativa do teu Natal, valemo-nos da oportunidade para uma orgia. Uma orgia mundial. Mesmo em meio à festança, pela minha janela, lá fora, vejo uma criança com os pés descalços, maltrapilha, faminta. Tem até uma certa aparência contigo. Não sei porque todas as crianças pobres se parecem com Jesus. Desvio o olhar.

Não, uma simples criança não pode perturbar a minha ceia de Natal. Olho para os que comigo estão e relembro que Vós perdoastes os nossos antepassados porque eles não sabiam o que faziam. Agora sabemos.. Perdão, Jesus! Reconheça que o Teu sacrifício foi em vão!


Parreiras Rodrigues 

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