Naquela Noite de São João

Nunca me esqueci de ti,
das tuas trança negra,
do teu vestido de bolinha
na noite de São João.

Nem nunca esqueci o batão vermeio
que cobriu tua boca de menina,
nem da cinta branca que apertô teu corpo.

Nunca esqueci o teu brado de assustada
a corrê em vorta da foguera,
nem como balançava tuas trança
ora cá ora lá nos teus ombro.

Nem quando peguei tuas mão suada
e te disse: vem brincá comigo,
qu’eu te dou um capilé.

Ocê me oiô de soslaio, tão sapeca,
e de mim se desvenciiô,
e deu de toda a corrê em meio do pessoá,
rindo brejeira.
(contando qu’eu fosse atrais?)

Parei suspeitado, vestido no meu trajo
cheio de costura que minha mãe remendô
E fiquei a te mirá, abasbacado,
acompanhando aonde ia minha frô!

Nunca mais te vi, nunca mais cumprendi
aquela tão grande mardade.

Ficô nas minhas vista tuas trança, teu zóio,
Tua cinta branca em vorta do vestido,
Teu riso perarta, teu sapatinho me matando,
Todo dia, de sodade!

Paulo Silva
Publicado no livro Réquiem a uma Borboleta
Piraquara – 2008

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